A melhor rede social é uma mesa de jantar
Ou qualquer mesa que você possa reunir pessoas que você gosta
Lembro de abrir meus olhos, perdido.
Minhas pálpebras abriram repetidamente de forma devagar, se esforçando contra o sono, ou contra o efeito das duas taças de vinho branco que eu tinha acabado de tomar.
Levou algum tempo para eu reconhecer o lugar. Deitei de estômago pra cima, olhando o ventilador branco e antigo preso no teto, pensando no sonho que eu tinha acabado de ter.
Ouvi alguns gritos vibrantes do lado de fora. Vinham da sala. Me perguntei o que poderia estar acontecendo para vibrarem com tanta energia.
Levantei, ou melhor, sentei na cama e minha cabeça doeu um pouco. Não se fazem mais fígados como antigamente. Estava tudo bem, só foi uma pequena tontura. Coloquei minha pantufa e fui para a sala.
Dei bom dia para todo mundo. Todos me responderam consternados devido à minha breve soneca de duas horas no meio da tarde. Na verdade, me perguntaram se os gritos não tinham me acordado.
Acredito que sim, mas estava feliz em ter acordado.
Ainda eram cinco horas da tarde, mas como o Canadá fica mais acima no hemisfério norte, a noite já apontava lá fora.
Percebi que as vibrações eram por causa de um jogo de tabuleirom, em que cada jogador aposta em uma espécie de corrida de camelos, quanto mais dinheiro você ganha a partir das apostas, melhor. Fazia tempo que não jogava. Me sentei no sofá, ao lado do Brad, que me perguntou se eu queria alguma coisa para beber.
Sem pensar duas vezes, pedi uma Caesar — uma espécie de Blood Mary mais condimentada e feita com vodka.
O Brad é um dos caras mais legais que conheço. Esposo da minha amiga, Jéssica. Em dois segundos ele desceu, trouxe aquela bebida gelada e apimentada, com gosto de molho de salada.
O jogo tinha acabado e o David e a Sandy foram para a cozinha preparar o jantar. Seria carne. Eles são os pais do Brad e donos da casa do lago.
Durante o jantar, que estava extremamente delicioso, com a carne no ponto perfeito, bebemos vinho e jogamos conversa fora. Ficamos um bom tempo ali discutindo sobre coisas como, quais seriam nossas últimas refeições se fôssemos condenados a cadeira elétrica e quais crimes teríamos cometido.
Ao terminar o jantar, o David sugeriu que fôssemos olhar as estrelas, pois como a casa do lago fica em um lugar longe da cidade, é perfeito para admirar o céu. A escuridão é necessária para enxergar o brilho das coisas.
Ver a via láctea a olho nu é algo impressionante. As três marias, formando o cinturão de orion, ficam de ponta cabeça por estarmos em outro hemisfério.
Fazia frio naquela noite e eu estava feliz. Coloquei duas jaquetas, uma touca, luva, mas não tinha duas calças. O lago estava invisível e só ouvíamos o barulho da ondulação da água. Contamos algumas estrelas cadentes e fizemos pedidos silenciosos.
Alguns deles molharam o meu rosto.
