Estou lendo um livro cujo título se parece com o deste post: Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã. É um livro ótimo, cativante, com uma construção elaborada dos personagens. É fácil se identificar com cada um deles, e a curiosidade toma conta a cada página.
Mesmo assim, ainda estou na metade. Arrasto a leitura de forma vagarosa e, apesar da descrição super generalista que dei acima, não posso entrar em detalhes da história, porque ela acontece de maneira semelhante a uma não-história.
Quero dizer, não é uma história clássica com jornadas heroicas. Até agora, o livro descreve a vida de algumas pessoas e as reviravoltas que elas enfrentam pela ocasionalidade do mundo — e foi isso que despertou minha vontade de escrever este post.
É Carnaval. Na verdade, ontem foi. Já passou um pouco da meia-noite de quarta-feira.
Está bastante calor, algo não muito esperado aqui na minha cidade. Guarapuava é um lugar onde venta muito e é muito conhecida por seus invernos rigorosos. Em 2013, teve até neve. Foi a primeira vez que vi neve na vida e também o ano em que me mudei para a França para fazer meu doutorado.
Na França, também vi um pouco de neve no primeiro ano, mas até menos do que tinha visto em Guarapuava, o que me fez pensar: "Lá em Guarapuava, a neve é mais foda."
De qualquer forma, o calor de agora faz com que seja um pouco difícil pegar no sono. Estou pesquisando para comprar um ar-condicionado, mas sempre postergo porque acredito que, de alguma maneira mágica, a temperatura vai voltar ao normal nos próximos anos.
Além disso, fiz mais uma tatuagem ontem, e ela ainda dói. É um desenho que cobriu praticamente o braço inteiro, e encostar na cama ou em qualquer coisa está bastante desconfortável. Fazer tatuagens me mostrou a importante lição de que a cura pode doer mais do que machucar. Foram mais ou menos sete horas para a tatuagem ficar pronta, e fizemos tudo em uma só sessão.
Fiquei o tempo todo sem comer. Depois de um determinado período de agulhadas contínuas, mesmo sendo bastante resistente, o estresse e a fome fazem com que a dor comece a incomodar mais.
É preciso muita paciência.
Ao terminar, fui ao meu bar preferido. Entrei, puxei uma cadeira perto do balcão, pois estava sozinho. Olhei no relógio e ainda faltava bastante tempo para meu próximo compromisso, então resolvi chamar um amigo de longa data.
Conheci o Pietro quando fazíamos parte de um grupo de jovens — juro que ri alto quando escrevi “fazíamos parte de um grupo de jovens”.
Nos tornamos muito amigos e até fui padrinho do seu primeiro casamento. Depois disso, os caminhos da vida nos afastaram. Eu fui para a França, viramos mais adultos, a vida aconteceu.
Bebemos umas cervejas, eu comi um hambúrguer, e dividimos uma porção de batata. Como eu só tinha almoçado, me dei o direito de me “nutrir” com uma quantidade maior de comida do que estou acostumado.
Em um determinado momento, recebo uma mensagem da Carol.
Contei que estava com o Pietro, e ela nos convidou para ir ao samba. Hesitei um pouco porque eu tinha um compromisso logo depois com um amigo, mas ele me informou que atrasaria, então decidimos ir.
Chegamos ao novo bar, onde estava acontecendo o samba, um pouco antes do final do intervalo. O grupo já tinha tocado a primeira parte, e aproveitamos o “silêncio” para conversar um pouco.
Cervejinha daqui, cervejinha de lá, cantamos, dançamos. Meu amigo cancelou o compromisso, o que me permitiu ficar até o final da apresentação do grupo. Foi divertido e que bom que eu não fui embora mais cedo.
Mas o que mais me chamou a atenção nesse rolê foi estar com o Pietro e a Carol no mesmo lugar.
Em 2010, tive minha primeira namorada, e a Carol era a melhor amiga dela. Tão próxima que meus amigos e eu a apelidamos de “brinde”, porque era tipo um chaveirinho que não desgrudava dessa minha ex-namorada.
Minha ex tinha um irmão que, coincidentemente, era o melhor amigo do Pietro. Então, há quinze anos, era muito comum para mim conviver com eles dois. Eu ia ao grupo de jovens, o Pietro estava lá. Ia ver minha namorada, a Carol estava quase sempre lá. E o Pietro também.
Era comum termos almoços de domingo em que todos estavam na mesma mesa. Mas o que é mais curioso sobre esse rolé é que: o Pietro e a Carol não se lembravam um do outro daquela época. Insignificantes um pro outro, percebi. Mentira, só estou brincando.
Um dia após o outro nos afastamos totalmente e pelas eventualidades da vida, nos reencontramos quize anos depois, só que com samba e cerveja.