Enquanto na terra dos que podem
PENSAR É LUXO: A DESIGUALDADE AGORA É COGNITIVA
O texto a seguir é do
. Ele postou no LinkedIn e estou reproduzindo ele aqui. Siga-o. É o pesquisador contemporâneo mais interessante que eu conheço.Durante séculos, desigualdade significava terra, renda, herança. Mas, em 2025, o novo marcador social não está no patrimônio, está na capacidade de se concentrar. Em uma era de sobrecarga informacional, pensar virou um ato de resistência. A atenção, antes vista como um recurso infinito, se tornou o ativo mais escasso da vida contemporânea.
Segundo o Common Sense Census, crianças de famílias com menor renda passam duas horas a mais por dia diante de telas do que as de famílias mais ricas. Essa diferença, aparentemente banal, já cria um abismo cognitivo: impacto direto em linguagem, memória e autorregulação. O mesmo padrão se repete entre adultos: quanto mais precarizado o trabalho e mais fragmentado o cotidiano, menos tempo sobra para a pausa e para o pensamento.
Vivemos o equivalente mental do fast food. O conteúdo ultraprocessado, feito para entreter e distrair, tomou o lugar da reflexão. A lógica é simples: quanto menos tempo você tem, mais o mercado oferece estímulos rápidos. E assim, enquanto uns pagam para meditar, silenciar ou fazer “detox digital”, outros sobrevivem à overdose de notificações, alternando entre o WhatsApp, o Pix e o prazo.
As elites cognitivas não compram apenas conforto, compram tempo lúcido. Pagam para pensar com calma. Não precisar reagir o tempo todo é um novo tipo de luxo. É ter o privilégio de se aprofundar, enquanto o resto do mundo tenta respirar entre interrupções. É o retorno da concentração como símbolo de status.
O que está em jogo não é apenas o que consumimos, mas como consumimos conhecimento. Há quem possa escolher o que lê, o que ignora e o que internaliza. E há quem viva à base de conteúdo ultraprocessado, produzido para manter o corpo online e a mente cansada. Se antes a desigualdade era sobre o que se tem, agora é sobre o que se consegue sustentar na cabeça.
Quando tudo disputa nossa atenção, talvez o verdadeiro privilégio não seja ter acesso à informação, mas ter energia para digeri-la. Porque o luxo do futuro não será ter, será entender.
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