Depois do último texto, em que contei sobre minha promessa de viajar e revisitar as pessoas que encontrei pela vida, criei uma preocupação em minha cabeça: Como escrever sobre viagens sem escrever sobre viagens?
Deixe-me explicar.
Quando quero buscar dicas sobre viagens ou passeios, os textos que encontro na internet, normalmente, seguem o mesmo formato, apresentando tópicos e frases que irão ranquear bem nas páginas de busca. Isso é chamado de otimização de SEO (Search Engine Optimization). Não estou dizendo que isso seja ruim, pelo contrário, trazem informações objetivas e eficientes, que respondem os questionamentos que estou busando.
O que fazer em Dublin? Qual o custo diário de ser turista em Paris? Qual a forma mais rápida e barata de chegar em Tóquio? Dicas de hospedagem em Cuzco, ou ainda, quando acontecem as Olimpíadas Rurais do Turvo? Bom, você entendeu.
Não quero que meus textos respondam diretamente à essas perguntas, mas ao mesmo tempo, quero que as respostas estejam contidas nele. Melhor ainda, como responder perguntas do modo que uma inteligência artificial não responderia de forma interessante? Pelo menos, interessante pra mim.
Este texto é uma tentativa. Por isso, se você chegar ao final dele sem se sentir uma pessoa entediada, comente sua percepção.
Na França, mais especificamente em Lyon, vivi em uma república durante quatro anos. Nela, moravam mais três pessoas. Sempre três eram fixas, Celia, David e Eu. A quarta, mudava a cada ano.
Primeiro foi a Julia, uma francesa que quebrou o joelho fazendo esquí. Em uma descida, a neve estava fofa em um buraco, ela caiu com uma perna e o joelho dobrou pra frente. Sinto arrepios só de imaginar.
Depois veio a Carol. Outra francesa, mas não tão aventureira. Ela fazia doutorado, assim como eu, e tinha um marido polonês, o Luca. Ficamos muito amigos e quando se mudaram para Paris, pois Carol ficou grávida e dividir a casa em que morávamos ficaria inviável, os visitei e fui iniciado no mundo do Whisky.
Lembro muito bem do momento que soubemos que ela estava grávida. Costumávamos fazer uma grande festa todos os anos, pois nossa casa era muito grande e espaçosa, com três andares, bem no centro de Lyon. Era barato morar nela porque antes de ser uma casa, o imóvel servia como um armazém.
No dia da festa estávamos todos bêbados, menos a Carol, que acabou derramando uma jarra cheia de massa de crepe em cima do balcão. Enquanto limpávamos e ríamos da situação, falando — A gente que bebe e vc que fica com a mão mole!! — nos perguntamos: ué, porque não tá bebendo? E foi assim que ela nos contou. Foi muito divertido.
Depois dela veio a Marisol, uma mexicana que já conhecíamos de outros rolês. Eu a chamava de Marie Soleil. Coitada, acho que foi a que mais sofreu convivendo comigo. Eu era seu vizinho de quarto e eu passava as noites acordado escrevendo minha tese ou fazendo festas depois que terminei de escrevê-la. Perdão.
Celia é uma pessoa que não gastarei meu francês para descrever nesse texto. Teve sua importância, claro, mas posso deixar para textos futuros.
E o David.
Ele era uma espécie de irmão mais velho pra mim. Temos alguns dias de diferença na idade, mas as diferenças eram gritantes: Piloto de avião, alto e bonito. Eu não sou piloto de avião.
Dividimos muitas memórias juntos, pois temos gostos muito parecidos. Gastronomia, viagens, fotografia, coisas tecnológicas e rolês com amigos e apreciávamos, principalmente, a beleza das mulheres brasileiras.
Já visitei mais de trinta países, as mulheres mais bonitas que eu já vi moram aqui e bom, me casei com uma brasileira e ele, também. Inclusive, com minha amiga, Paula.
Conheci a Paula por causa do Facebook. Existia um grupo de brasileiros e se não me engano, ela estava buscando alguém que tocasse violão para fazer um piquenique na beira do rio que corta a cidade. Eu toco violão.
E foi assim que ela passou a ser presença importante na minha vida social. Ela tem muita facilidade em fazer amizades e me apresentou pra todas as pessoas que conhecia. Consequentemente, fiz muitos amigos e é por isso, que nossa casa era palco de festas lotadas.
Depois de algum rolê em que fomos juntos, voltamos pra casa a Paula, Grecia — uma outra amiga nossa — e eu. Elas dormiram lá em casa e, no outro dia pela manhã, Paula e David se conheceram.
A mágica aconteceu e cinco anos depois, casaram-se. Não sei como alguém aguenta tanto tempo sem transar. Mas escolhas são escolhas.
Depois que voltei ao Brasil, os contatos ficaram mais distantes. A vida foi acontecendo e tive poucas trocas de mensagens com eles dois. Até que, determinado dia, a Paula me manda o convite para o casamento deles, que seria no Brasil.
Mandei mensagem para o Guto, um amigo que tem uma agência de viagens na minha cidade, a Viva Travel. Acho que é esse o nome. Ele comprou as passagens e reservou o hotel para nossas datas disponíveis.
Como estávamos em Janeiro e esse mês tem um ano inteiro dentro dele, não tínhamos planejamento de realizar uma viagem de férias nesses dias, por isso, buscamos fazer alguns passeios curtos, mas que valessem a pena.
Ao pousar em Maceió, no Aeroporto Zumbi dos Palmares, chamei um Uber que nos levaria até o hotel.
O motorista, atendeu uma ligação no viva voz e não pudemos deixar de ouvir que se tratava de um convite para um churrasco.
Existem coisas na minha personalidade que, às vezes, podem ser um tiro no pé, mas em outras, podem trazer algumas consequências boas. Depois que ele desligou a ligação, perguntei se também estávamos convidados. Rimos muito, não comi churrasco naquele dia.
Mas tivemos o tempo necessário para conversar o suficiente com o Roberto, que também é guia turístico e contratamos seus serviços de guia para um dia inteiro. Valeu a pena, ele nos levou nas praias mais visitadas em seu carro, deixávamos nossas coisas e depois íamos para outra.
Numa dessas, Praia de São Miguel, fizemos passeio de barco até um recife. Pela primeira vez na vida peguei um ouriço nas mãos. É incrível como uma pedra cheia de espinhos contém vida. O piloto do barco — Posso chamar de marinheiro quem pilota um barco a motor? — bem, o marinheiro pegou um para que pudéssemos observar.
Depois, devolveu no mar.
Dalí, partimos para um banco de areia onde tem um bar flutuante. Como estava calor por volta dos trinta e cinco graus, a cerveja gelada de vinte reais nunca pareceu mais gostosa. Um amargor gelado maravilhoso e refrescante.
Após, fomos para uma outra praia chamada, Praia do Gunga. Pensamos em fazer o passeio de quadricíclo, mas o tempo era curto. Eu tinha marcado um outro passeio na praia perto do hotel que estávamos.
Nesse mesmo lugar, a Milena se encantou com os artesanatos que uma vendedora passou oferecendo, contando a história que a artesã fazia um trabaho manual e dedicado para produzir cada peça. Mais tarde descobriríamos as mesmas peças por metade do preço em um centro de artesanato na praia de Pajuçara.
Comemos alí mesmo, bebemos mais cervejas deliciosamente geladas.
Voltamos para a praia de Pajuçara, onde encontraríamos nosso jangadeiro, Erivelton. Ele nos levaria em um passeio de aproximadamente duas horas pela beira mar e nas piscinas naturais, onde nadamos com alguns peixinhos.
Mar não é pra mim.
Meu chapéu voou quando subi na jangada e, se não fosse por outras pessoas na água, o teria perdido. Perder um chapéu pode parecer coisa besta e irrelevante, mas em um calor de noventa e cinco graus, a proteção dos ombros e cabeça são essenciais.
Chegando nos peixinhos, passamos um tempo aproveitando a água bastante quente e rasa. Como não sei nadar, a profundidade do mar era determinante para eu entrar na água.
Foi uma experiência muito legal.
Ao voltarmos, ficamos na praia por um bom tempo. Como não sou parente da Larissa Manoela, aproveitei que o carrinho do milho passou e pedimos duas porções, claro, com mais cerveja.
Fiquei sentado em uma cadeira apreciando a iguaria brasileira, enquanto a Milena se banhava por mais alguns minutos.
Venta muito em Maceió, de verdade.
Anoiteceu e voltamos ao hotel chamado, Verano Tropicalia. Bem estruturado, com um café da manhã bem servido, mas com um ar condicionado desregulado. Ambos ficamos doentes, porque toda vez que passávamos pela recepção, recebiamos um choque térmico. Era mais frio do que Curitiba. Curitiba não é mais fria do que a cidade que eu moro, mas você já experimentou dizer isso pra um curitibano?
Ainda era cedo e como eu não sou fã de dormir, resolvi dar uma volta. Tá aí uma curiosidade, eu detesto ter que ir dormir. Eu gosto de dormir quando meu corpo está pedindo, igual beber água somente quando está com sede, sabe? Dormir só por dormir definitivamente não é meu programa favorito.
Enquanto ela dormia, fiz uma caminhada pelo calçadão da pria de Pajuçara, buscando um lugar para jantar.
Ouvi de longe um barulho estridente de metal fino batendo em metal fino. Com certeza era um forró. Foi ali que escolhi comer uma porção de camarão bebendo a ultima dose de cerveja do dia, ouvindo uma boa música.
Foi um dia bastante cheio e com muita experiência boa. No outro dia fomos ao casamento e em outro caminhamos por aí comprando lembrancinhas e comendo coisas gostosas.
Até breve!