Hoje eu queria que a minha cidade tivesse um café aconchegante, com uma música calma tocando ao fundo para que eu pudesse escrever este texto. Pensei em algumas alternativas, mas todas traziam algum tipo de desconforto do tipo música alta ou muita gente.
Tenho um sonho muito distante de ter um café ou um bar de conceito aberto e se um dia eu ficar rico, possivelmente terei um empreendimento assim. Não sou de acreditar em signos, mas quando falo que sou de capricórnio, as pessoas dizem que eu serei rico um dia.
Os astros podiam agilizar isso aí.
Não preciso que o bar seja financeiramente viável. Só quero um lugar bonito, calmo, para beber meu café ou vinhos, comer bolo de cenoura e pão de queijo, onde eu consiga olhar a rua e ver a vida passar sem me preocupar, enquanto planejo minha próxima viagem, escrevo alguma coisa ou edito fotografias antigas.
Hoje eu tinha bolo em casa e uma amiga passou me visitar para tomar um cafézinho da tarde. Me perguntou se eu já tinha assistido ao filme, HER, e me falou sobre como a disposição de alguns móveis no filme lembravam o jeito que organizei a minha sala.
Ao falar disso, lembrei que eu tinha escrito alguma coisa sobre o filme e que enviaria pra ela. Achei a versão original, mas não gostei do que li e estou reescrevendo algumas partes.
Inteligências artificiais não devem ser antropomorfizadas, porque elas não são pessoas.
Nós, humanidade, temos o péssimo hábito de acreditarmos que somos o centro do universo. Até existe um nome pra isso — Antropocentrismo. Sei que não é bem isso, mas você entendeu.
Por acharmos que somos os orgãos sexuais da galáxia — vamos ser democráticos aqui — costumamos transferir nossas características físicas e emocionais para outras entidades, sejam elas vivas ou não. Tentamos fazer de tudo nossa imagem e semelhança.
Damos olhos para robôs que não enxergam. Colocamos cílios em faróis de carros para transformá-los em uma máquina do mal e até damos nomes próprios para eletrodomésticos. Tipo o Aécio, aspirador de pó aqui de casa.
Afinal, adoramos transformar as coisas em algo que se pareçam com pessoas, porque nos amamos muito.
Até inventamos divindades, as quais acreditamos que fizeram a mesma coisa: transferiram sua imagem e semelhança para um objeto inanimado e depois deram o sopro da vida.
Mesmo antes de pensarmos que alguma forma de inteligência artificial pudesse ser verdade, demos traços humanos para elas. Principalmente traços femininos. Tema para outro texto.
O fato é que, as diversas formas de inteligência artificial que temos hoje, não são, conceitualmente, inteligentes. Por limitarmos nossa experiência de mundo à interações linguísticas, uma inteligência artificial que crie objetos os quais possuem uma semântica muito boa para nossas necessidades, acaba nos confundindo e nos faz acreditar que estamos interagindo com algum tipo de inteligência humana.
No filme, Her, a inteligência artificial tem o objetivo de ser o objeto mais útil possível para seu dono, criando um relacionamento de dependência no qual o personagem é incapaz de distinguir se a tecnologia é uma pessoa ou não. Ou até sabe, mas fica decepcionado em saber que a mesma tecnologia que conversa com ele, conversa com todo mundo e se adapta para as necessidades de cada pessoa. Sobre esse ponto, assim como inteligências artificiais com nome de mulher, é possível observar diversas complexidades sobre relacionamentos e interações dominadoras, mas vou me manter no limite da tecnologia.
E será que chegaremos a tal ponto de não reconhecermos a diferença entre máquinas e pessoas no futuro?
Acredito que sim. Somos inocentes o bastante para acreditar em fake news, não é muito difícil fazer uma pessoa acreditar que algo criado por uma máquina tenha sido feito por um humano.
Hoje temos algumas ferramentas muito impressionantes, como o ChatGPT. Essa inteligência artificial é um modelo de linguagem capaz de interagir com as pessoas sobre diversos assuntos por meio de uma caixa de texto em um site.
Essa facilidade de interação com modelos tipo o ChatGPT traz diversas vantagens e desvantagens.
Algumas aplicações vantajosas seriam tipo, um bate papo para idosos que não tem mais com quem conversar. Um assistente virtual para Alzheimer. Diagnosticos rápidos de doenças simples a partir de uma anamnese guiada. Tradutores de sinais corporais para pessoas com algum tipo de limitação física para determinada linguagem mais abrangente.
Ao mesmo tempo, veremos a atrofia acelerada de capacidades cognitivas que nos tornam essencilamente humanos. Tô falando da criatividade. Do sentimento, da malemolência, sabe? Do je ne sais quoi. Do tompêrrrro.
Aquela coisa que motiva e inspira as pessoas mais brilhantes a extrair lágrimas e sorrisos de outras pessoas, por causa da essência de uma obra de arte que foi criada com intencionalidade, com bagagem cultural e sentimental, com complexidade e sentimento. Coisa que uma máquina nunca poderá fazer, a não ser imitar.
Em vez de utilizarmos a tecnologia como um potencializador de nossas habilidades, assim como um exoesqueleto pode ser útil para um corpo físico, frequentemente escolheremos substituir nossas produções intelectuais por algo sintético, mas convincente.
Preferimos substituir a dor de utilizar nossos processos cognitivos para criar qualquer coisa porque é mais fácil pedir para uma tecnologia de IA. O problema é que quanto mais pessoas fizerem isso, todas as produções vão convergir para conteúdos “médios”.
Por outro lado, vejo que, se muitas pessoas utilizarem esse tipo de tecnologia, talvez comecemos a dar valor para artes ou outras produções feitas por humanos. O “made in humans” se tornará uma etiqueta que significa escassez, e o que é escasso é valioso.
Lidar com a realidade é difícil e dói.
No filme, essa mensagem fica clara. Se tivermos alguém que concorde conosco em todos os aspectos, por que nos relacionaríamos com pessoas que são tão particularmente diferentes de nós?
Enfim, é um tema que podemos ficar horas falando e se você quiser conversar sobre isso, deixe seu comentário.
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Até a próxima.