Quando você começa com gato, copa e salmoura.
Hoje foi meu primeiro dia oficial de férias. Peguei uma semana para descansar, mas como todo jovem adulto, ou não tão jovem, meu corpo entendeu deliberadamente que deveria baixar minha imunidade ao máximo, para me obrigar a repousar e não fazer as viagens de bate e volta que eu tinha planejado.
Pois bem, corpo eloquente o qual tanto dependo, que seja feita sua vontade. Dedicarei meus dias ao repouso, a comilança ( não sei como fazer crase nesse teclado) , ao desenvolvimento da minha criatividade ócia (inventei, dane-se) .
Ainda, por ser meu primeiro dia de férias, acordei super cedo. Eu queria ter dormido muito mais, mas meu corpo decidiu por mim, imaginando um dia cheio de aventuras que nunca aconteceriam. Porque além de dormir pouco, me fez ficar doente. Tipo gripe, eu acho.
Não jogo toda a culpa nessa imensidão de carne, ossos, entrelaçamentos protéicos e água. Semana passada foi o período em que passei em São Paulo para trabalhar presencialmente e é claro que, festas acontecem, multidão, karaokê e um frio descomunal na capital cinzenta. Foi a primeira vez que senti frio em São Paulo.
A oportunidade fez o doente.
Pois bem, hoje, pela manhã, recebi uma mensagem de uma querida amiga falando que leu meu último texto e se perguntava como eu conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo: trabalhar, viajar, tirar fotos, escrever, ter vida social, romancinhos, etc.
Eu até pensei em escrever um texto no formato: como organizar sua vida para fazer tudo que gosta. Mas a real é que quando pensei na estrutura do texto não fez nenhum sentido, porque eu só consigo fazer tudo o que eu faço porque eu sou sortudo para um baralho.
Com essa percepção, até tinha desistido de escrever este texto porque ninguém gosta de saber o quanto uma pessoa é sortuda. Claro que as possibilidades de vida que eu tenho hoje também dependeram do meu esforço, escolhas importantes e tal, mas muito da sorte.
Pergunte pra qualquer pessoa que você acha ter uma vida muito boa, o que ela pensa sobre a própria vida e, provavelmente, ela ficará com vergonha em admitir que tem uma vida boa. De onde eu vim, o trabalho e o sofrimento eram inerentes ao cotidiano e a toda uma narrativa do sentido da vida. Não tem nada de errado nisso.
Só que de repente você acerta a mão e consegue! E aí, o que você faz com o sucesso que você sempre sonhou?
Li em um texto que dizia: “a sorte insulta o mito da meritocracia” e precisamos de uma narrativa de esforço para nos sentirmos dignos de nosso sucesso. Isso acontece porque provavelmente nos importamos demais com o que merecemos e não o suficiente com o que queremos.
Quando tudo está certinho, nas mil maravilhas, como uma capa do livrinho amarelo dos testemunhos de Jeová, não temos história pra contar, nenhum problema real pra ser resolvido.
Aí, a maioria das pessoas, incluindo eu, claro, inventa uma perturbação, uma nóia, apenas para se sentir de castigo novamente porque não estamos autorizados a ser felizes demais.
A maior parte do nosso estresse é inventado e você sabe disso. Os problemas que você tem pra resolver já tem um caminho traçado — mesmo que você ainda não saiba — para resolução e aqueles impossíveis de resolver, bem, paciência. Mas calma, no texto e na lógica parece fácil, mas não é. Eu sei.
Só que pensa comigo, quantas coisas você deixou de aproveitar porque acreditou que não merecia aquela recompensa? Coisas
Quando algo bom acontece na vida, você tem todo o direito e todas as permissões para gozar de seu sucesso e de toda a alegria que ele traz. Afinal, por que você não deveria? “Por que você deveria se rebaixar à uma alegria medíocre quando concordou em nunca se contentar com menos?”
“É o efeito colateral de viver bem. Se as outras pessoas desejassem ser felizes, deveriam ter escolhido vidas mais interessantes.” E é aqui que eu faço uma ressalva: Minha consciência de classe não deixa eu escrever isso sem uma agulhada na percepção de que ter uma vida mais interessante não é somente uma questão de escolha. Maassss, se você está lendo este texto, talvez seja.
Portanto, quando me perguntam como eu consigo aproveitar meu tempo para fazer tudo o que gosto, minha resposta é : No atual momento da minha vida, eu só consigo porque tenho muita sorte. Tomara que continue assim.
Ah, mas tem uma coisa importante: Usar menos as redes sociais ajuda bastante. Se for usar, gaste seu tempo criando conteúdo em vez de consumir.
Para te ajudar com essa tarefa recomendo que você escreva. Pode ser que você não tenha talento com fotos, desenhos, músicas ou vídeos, mas alfabetizada ou alfabetizado você foi. Tá lendo aqui, né?
Então pega algo que você saiba muito fazer e escreva sobre. Uma receita, por exemplo. Você vai gastar um ótimo tempo estruturando seus pensamentos, observando dentro de si e compartilhando algo em vez de ser seduzido por um algoritmo que sabe mais de você do que você.
Para fazer o título compreensível, no truco, jogo típico ou melhor, esporte olímpico universitário, cada jogador recebe três cartas e a melhor mão possível para começar o jogo é gato, copas e salmoura. (talvez seja espada, não lembro).
Aqui temos o caso contrário da vida dar limões, todo mundo aprendeu a fazer limonada, mas ninguém nos ensina o que fazer ou o que sentir quando a vida nos dá uvas frescas na beira da piscina. Aproveite!
Hoje alcancei dez pessoas inscritas nesta newsletter. Eu considero isso incrível. Obrigado!