Roadtrip 2025 - Último dia, volta pra casa
Nós nunca mais vamos poder voltar
De volta em casa.
Cheguei ontem. Depois de Bento Gonçalves, decidi mudar minha rota para voltar para casa. Em vez de esperar pelo show de natal que aconteceria no domingo e voltar pela mesma rota que eu fiz para chegar em Gramado, fui guiado para outro caminho que me rendeu conhecer a história da minha família um pouco mais.
Minha mãe me falou que meus parentes ficariam muito feliz se eu fosse visitá-los em Venâncio Aires, cidade onde meus avós maternos nasceram.
São parentes distantes que eu pouco ou nunca tive contato. Eles me conheciam, porque visitaram minha mãe quando eu ainda era muito criança, mas eu não os conhecia pessoalmente.
É engraçado conhecer meus parentes maternos porque são todos brancos e por causa disso, não sou nada parecido com eles.
Minha curiosidade foi despertada em entender como a imigração da minha família, vinda da Alemanha, aconteceu. Eu sabia sobre a mãe do meu avô, que nasceu no navio vindo em 1901. E isso era o mais “longe” que eu sabia.
Ao visitar minha tia avó, irmã da minha avó, ela me mostrou a foto que está ali em cima. Os mais adultos, sentados, são meus bisavós maternos e a menina mais à direita é a minha avó.
A criança no meio segurando as flores é a tia que visitei, da foto abaixo. Ela é a única pessoa da geração que ainda vive.
Abaixo temos meu avô, que casou com a menina da direita. Eles tiveram dez filhos, que são minhas tias e tios.
Entender o desenvolvimento de uma família a partir da sua genealogia é também entender como o processo de desenvolvimento de uma sociedade aconteceu. Parece óbvio, mas dificilmente prestamos atenção sobre como uma família está situada no cenário econômico e social de sua própria época.
Todos somos agentes importantes na história do tempo que estamos participando.
Ao buscar um pouco mais sobre meus antepassados, descobri que um tatatataravô — não sei qual tata era — veio ao Brasil, em 1858, para colonizar uma cidade chamada Teutônia.
Engraçado que um amigo que conheci na França me falou para ir para esse lugar antes de eu saber sobre ele e a relação com minha família.
Se você prestar um pouquinho atenção na data, isso acontece trinta anos antes da abolição da escravidão (1888). Aproximadamente cem anos depois eu nasceria, fruto da união de uma pessoa negra com uma pessoa branca.
Como você deve imaginar, a recepção desse evento não teve clima primaveril, mas mostra um ponto importante no desenvolvimento do pensamento social.
Mudanças de paradigmas são inevitáveis, ainda mais quando exploramos novos horizontes. Viajar, conhecer novas culturas e entender a história nos dá a chance de rever como nossa personalidade, crenças fundamentais e conceitos são construídos, porque de alguma forma somos um pouco de cada pessoa que encontramos pelo caminho.
Se hoje posso olhar para o passado e encontrar registros dos primeiros habitantes do país, vindos da Alemanha, é porque isso faz parte de quem foi permitido escrever uma história. E do outro lado da família, quando não existe registros de ancestrais antigos, é porque isso também conta a história de quem um dia não era considerado humano o suficiente para ter uma história contada.
Em meu rosto e feições tenho um pouco dos dois, e em meu sangue uma linhagem de luta e superação.
Quando morei na França por causa de meus estudos, viajei para diversos países incluindo a Alemanha. Chemnitz é uma das cidades onde fui para um congresso de matemática.
Tirei essa foto quando estive lá.
E coincidentemente foi onde meu parente distante nasceu antes de vir ao Brasil. Em outubro de 2015 eu estive em Chemnitz. Em outubro de 2025 eu estive em Teutônia. Em outubro de 1829 nascia o meu tatatataravô, em Chemnitz.
É isso :)
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