Só o pó
É sábado.
Esse é o dia em que dou uma organizada no apartamento. Este lugar, em que agora habito sozinho, recebeu o apelido de, Bobojaco. Não tem um significado específico, mas é uma palavra legal de falar. Tipo, Krakatoa, ou Tuberculose, ou ainda, Parangaricutirimiruaro, ou melhor, bunda.
A palavra bunda é uma herança linguística perfeita para descrever aquilo que descreve.
Não sei porquê o texto tomou essa direção, mas vim escrever sobre a vizinha que passou café. Não, não dava pra ver a bunda dela enquanto ela passava café.
Levantei e fiz a faxina costumeira do apartamento. Arrumei o quarto, troquei a roupa de cama e guardei alguns cobertores que não estão fazendo falta nesse verão. Mesmo com muito calor, gosto de me cobrir com um edredon. O tecido dá um contraste de temperatura, pelo menos no início, que me faz sentir confortável. Como você também deve saber, deixo uma perna para fora do cobertor para regular a temperatura e dormir em paz.
Depois disso, arrumei o meu escritório. Roubei mais uma planta da minha mãe e trouxe para adornar o ambiente o qual passo a maior parte dos meus dias. Tem um sofá cama, uma mesa com três telas e o computador da empresa. Um sofá cama florido e uma televisão com o melhor sistema de som surround que a minha irresponsabilidade podia comprar. Mas faltava uma planta. Fui lá na minha mãe e reivindiquei minha herança de forma prematura.
Aí fui para o estúdio, onde tem um computador exclusivamente para jogar, ou melhor, destinado à prática de esportes eletrônicos. Também tem uma mesa com um pequeno notebook onde escrevo meus textos e faço edição dos meus vídeos e fotografias.
Já estava perto das onze quando terminei. Arrumei um pouco a sala de estar e depois terminei com a cozinha. Desci o lixo, lavei a louça e retirei as roupas do varal. Que me fizeram voltar para o quarto, dobrá-las e depois guardar. Faxinar é esse looping infinito onde uma coisa em cada cômodo pertence a outro e assim por diante.
Ao terminar, deitei no sofá da sala para mexer no celular. Isso já era perto das 14:30. Em breve alguns amigos viriam para jogar counter strike. As meninas do grupo iriam se reunir para fazer algum artesanato* e seus respectivos parceiros estavam sem programa para a tarde chuvosa.
Enquanto esperava, observei as janelas do prédio vizinho. Meu apartamento ainda não tem cortinas na sala. Assim, de vez em quando, as janelas alheias oferecem movimentações curiosas e hoje, foi a tia passando café.
Eu nunca vi alguém demorar tanto pra passar café. Fiquei ansioso sem nem tomar o café, imagina tomando.
É um abre garrafa térmica, fecha garrafa térmica, lava garrafa, cheira a garrafa, lava, cheira. Aposto que é a mesma garrafa que alguém usou para fazer chá. E todo mundo que sabe que não dá. É uma heresia ter a mesma garrafa térmica para café e para outras coisas.
Todas as bebidas ficam com aquele gosto homeopático da bebida anterior. Quem nunca tomou um café com lembrança de chá, ou um chá com lembrança de café?
Depois, pega o suporte do filtro e coloca pó. Umas cinco colheres. Cheira o pacote de café. Como é bom o cheiro do café, não é? Enquanto isso, a tempestade se apronta no horizonte e a velha só pensava em demorar pra fazer café.
Pega uma laranja, descasca, come, conversa com alguém. De certo esperando a água ferver. Dito e feito. Pega a leiteira com água fervida. Outra peculiaridade do brasileiro raiz é ferver água numa leiteira, que é muito menos utilizada para aquecer o leite. Mas muito utilizada para ferver água e cozinhar ovos.
Despeja a água fervida em movimentos circulares. O suporte do filtro é grande, daqueles vermelhos que a gente compra no mercado. E olha a água passando o café. Tenho certeza que ela acha que se ficar olhando vai passar mais rápido. Nisso já se passaram uns quinze minutos.
Depois de umas duas enchidas, o café parece estar pronto. Pega a garrafa térmica e cheira de novo. Despeja o líquido dentro e rosqueia a tampa. Dá umas duas bombadas na tampa para testar se a garrafa está funcionando sai da janela.
Me pergunto se tem bolo de cenoura.
Esse texto foi escrito e não revisado. Farei amanhã, provavelmente. Se você gostou, considere se inscrever para receber mais textos meus em sua caixa de e-mail.
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O texto foi escrito enquanto eu ouvia o seguinte álbum:
*Fofocar.
Fiquei um pouco ansioso "vendo" esse passar de café
Passar café é uma atividade terapêutica ☺️